Johsi Guimarães
Ainda menina, morando no sertão de Arcoverde, Johsi Guimarães admirava o oficio do pai, saxofonista. Filha mulher, não foi convidada a participar dos discos e instrumentos que chegavam pela casa, contudo, nada impediu o afeto pelos sambas, chorinhos e frevos que reverberavam em sua cabeça. Dos instrumentos de corda, escolheu logo o violoncelo e a música como ofício. Musicista de formação, imergiu na cena musical e artistica recifense e participou de discos como o de Juvenil Silva e Helton Moura. Criou trilha sonora para cinema_ assina a trilha dos documentários Vou Contar para Meus Filhos, de Tuca Siqueira e Retratos, de Adelina Pontual. Também de um dos curtas do projeto Olhares Sobre Lílith, que homenageia a obra da poetisa Cida Pedrosa. Flertou com o teatro, quando foi a violoncelista que tocou ao vivo na peça Essa Febre Que não Passa, do Coletivo Angu (PE)e participou de shows como o do cantor Ortinho, Banda Vôo, Isabela Moraes, Aninha Martins (no festival Rec Beat) e Juvenil Silva.
Essa vivência a ajudou a lançar mão de um olhar urbano e ao mesmo tempo íntimo com a manguetown ( sua fonte de pesquisa empírica e eterna inspiração) passou ao processo criativo do seu disco, onde poderia mostrar as suas composições construídas em quase onze anos de pratica musical.
O resultado é o projeto Roupa de Baixo, que apresenta Johsi como musicista, cantora e compositora. E poeta. Poeta é adjetivo que cabe a essa artista. Inquieta, contestadora. Ao ser indagada sobre a poesia de suas canções, dispara : “eu falo sobre mim , sobre solidão e esperas e meus conflitos com a maternidade também estão lá em várias , tem essa coisa do doer e do prazer das vivencias “. Johsi começou a sua carreira recitando poemas, seus e de autores que admirava, como João Cabral de Melo Neto e Micheliny Verunschk.
Seu disco Roupa de Baixo é um mosaico sonoro. Artistas como DJ Dolores, Olívia Fancello (Projeto Mexidinho) e a cantora Alessandra Leão, somaram cada. Participações de músicos reconhecidos na cena pernambucana como Yuri Queiroga, Vertin Moura, Juliano Holanda, Hugo Linns e Jam da Silva, promoveram sonoridades híbridas e experimentalismo. Não é exagero dizer isso de um disco que reúne cinco guitarristas diferentes. A capa do disco tem um coração. Sentimentos compõem essa roupa de baixo. A ilustração é um bordado tecido a mão livre por Johsi , durante o processo criativo do disco. Metaforiza aquilo que está embaixo da roupa, dentro da gente, escondido, as peças íntimas que a vida nos impõe e sobre as quais, falar ou cantar é um desnude. São percepções conectados a uma vasta reflexão. De gênero. Filosofia e poesia habitam o íntimo de Johsi. Em suas canções poéticas a artista desnuda a delicadeza, pontuado pelo som marcante de seu violoncelo.
Os requintados arranjos musicais do disco percebe-se o encontro da música clássica, talvez sua maior escola, com samba, coco de roda e rock. A música Em Cartaz, sétima do disco, é um flamenco com arranjos executados pelo mestre e contrabaixista francês Thibault Delor. Frevo do Acaso é experimentalismo na desconstrução de um frevo, onde o trompete conversa com o violoncelo de Johsi, num encontro músical inusitado. A presença de instrumentos clássicos, como o clarinete, enriquecem a cadência do samba de Canastra. Em Leica, a psicodelia sessentista aparece num rock progressivo, com letra apaixonada. A poesia de Johsi é claramente inspirada em suas andanças pelo Recife. Personagens surgiram como um refluxo das percepções adquiridas com a manguetown. Sonho de Menino demonstra bem isso.
Escute o disco na integra no soundcloud da artista:
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